29 de jan. de 2011

Sala de aula

Tive o privilégio (embora esta palavra não seja a mais apropriada aqui) de estar em uma sala de aula do ensino fundamental I por alguns dias como observadora, com o objetivo de entender o desinteresse das crianças pela escola e vice-versa (por que, a instituição escolar está, de fato, interessada em seus alunos?). O que vi fomentou algumas inquietações que quero socializar aqui...
O que, afinal, é ser professor em uma sociedade tão desigual quanto a nossa, repleta de interesses políticos duvidosos?
Exercer o papel apenas de transmissor de conteúdos, desconsiderando seu aluno como um ser completo e capaz, torna a tarefa de ser professor menos árdua. Parece-me que (quase) o tempo todo, a professora pensa assim e arquiteta suas atitudes a partir deste entendimento, transmitindo, em suas aulas, um conhecimento que não é o seu, mas de um livro didático, pouco elaborado, o que evidencia um alto grau de descomprometimento com a sua função.
Decepcionei-me em presenciar a exposição involuntária (porém inevitável) de nossas crianças a diagnósticos clínicos de professores que sequer sabem lecionar e que, a partir deles, submetem-nas a experiências que, se levam a algum ponto, este pode ser chamado de fracasso.  Será que os cursos de formação de professor/educador estão preocupados em formar um profissional crítico, reflexivo, autônomo? Ou mais uma vez devemos considerar as ideologias implícitas nos conteúdos dos cursos e, ao nos esbarrarmos com as políticas públicas em educação, nos conformarmos com a realidade caótica da escola brasileira?
Em alguns momentos, a professora da sala apresentava um discurso pedagógico construtivista e, dizia ter desenvolvido uma “alfabetização letrada” com seus alunos, o que a princípio, levou-me a vê-la como uma boa professora. Mas, depois de todo estudo desenvolvido na Universidade, sei que um bom professor não é aquele que possui um discurso otimista sobre a formação de cidadãos, mas aquele que, tendo consciência da real problemática escolar, olha para seus alunos e enxerga não problemas, mas possibilidades e, armados de coragem e comprometimento com a educação além de todo embasamento teórico disponível, permitem-se sonhar com uma educação capaz de formar indivíduos autônomos e realizar seus sonhos.
É necessária a efetivação de mudanças na maneira prática das crianças construírem conhecimento, começando por considerar a sala de aula um lugar versátil e não um meio de controle de disciplina. Um passeio pelo pátio da escola pode ser trabalhoso para o professor, mas também pode servir como gerador de temas de estudo e observação. A utilização dos espaços da escola, como o anfiteatro, para a apresentação de peças teatrais idealizadas e desenvolvidas pelas crianças a partir de temáticas de suas próprias realidades e interesses, com a supervisão da professora, pode construir conhecimento significativo e servir de base para o trabalho com outras disciplinas. Pode, acima de tudo, despertar na criança o gostar da escola (e de si mesma) e possibilitar entender a mesma como um lugar que a acolhe, que a ouve e a respeita como ela é. Isto fará a criança se reconhecer como capaz e útil, gerando mudanças no seu modo particular de ver o mundo e de se reconhecer como parte viva e importante dele.
Contudo, não quero rotular a escola e a professora como sendo “serial killers” de toda uma geração, pois ainda acredito que há possibilidades de mudanças e que todos são capazes de mudar.
    Aqui retomo o "privilégio" que mencionei no início do texto:  a possibilidade de conhecer as várias faces da educação e da representação docente e suas conseqüências na formação global da criança, pois penso que para propor mudanças e fundamentá-las, é necessário conhecer na teoria e na prática, o que se quer mudar.

28 de jan. de 2011

Criança e Igreja: e eu com isto?


“Cuidando” de nossas crianças

            O termo cuidar é muito utilizado em todo trabalho que envolve ou é dirigido às crianças. Talvez este hábito deva-se ao sentido assistencialista que nasceu com a educação infantil no Brasil, cujo objetivo principal era acolher a criança, oferecendo-lhe “uma rotina caseira” enquanto sua mãe trabalhava.
            O caráter assistencialista da escola infantil vem deixando de existir, com a preocupação crescente da sociedade em proporcionar não apenas uma “rotina caseira” (muito importante na construção pessoal, de valores, moral e até espiritual na formação de qualquer pessoa), mas momentos específicos de aprendizado dirigido, com brincadeiras, jogos e artes. Assim, as escolas têm se transformado em um local que proporciona momentos de prazer para as crianças, o que faz com que elas anseiem por estarem lá.
            Esta é uma realidade cada vez mais presente nas escolas, pois seus concorrentes (parques, cinemas, shoppings, etc.) têm investido muito para cativar nossas crianças...
            E a Igreja do Senhor, o que tem feito por elas?
            Como pode uma criança, conhecida por sua espontaneidade típica e honestidade, escolher ir à igreja no domingo ao invés de ir ao clube? Ou ao cinema, ao teatro, ao parque, shopping, praça...
            Jesus nos diz: “...deixai vir a mim os pequeninos, não os impeçais...” Quando dizemos à elas : “...venham à igreja no domingo, não faltem, vai ser legal!” e lhes oferecemos a leitura de uma história que aconteceu há tempos e que não lhes diz nada, estamos subestimando ê destorcendo a noção de legal que nossas crianças tem. “...qualquer um que escandalizar um desses pequeninos, melhor lhe fora que se amarrasse uma pedra de moinho ao pescoço e fosse lançado ao mar.” (Mc. 9:42    ).
            Aprendemos que necessitamos ser imitadores de Jesus, a fim de vivermos uma vida plena, na presença do Senhor; Jesus era amorosamente criativo ao falar e ao ensinar... devemos imitá-lO.
            Não acredito que devemos nos colocar na condição de competidores com o mundo e as coisas que ele oferece à nossas crianças, mas é inegável a necessidade de a Igreja se esmerar nos cuidados com elas e no trabalho desenvolvido a elas.
            Um bom começo pode ser a definição do papel de um professor cristão de crianças: somos recreacionistas para entretê-las enquanto seus pais assistem aos cultos, somos meros contadores de histórias, somos babás realizando um trabalho mecânico de olhá-las para que não dêem trabalho e não se machuquem ou somos representantes de Jesus, instrumentos dEle, para desenvolvermos evangelismo e suporte para crescimento cristão de forma criativa e eficiente?
            A questão principal da educação cristã não está relacionada à questão do cuidar assistencialista, mencionado no princípio deste texto, da qual se ocupa a escola secular, mas a partir do conhecimento desta questão, a busca da resposta pessoal a outra questão: “como uma criança vivencia Deus?, como permitir que ela se apaixone por nosso Deus, de tal forma que deseje estar na presença dEle, na casa dEle e leve, consigo sua família?”.



“A criança não é o futuro da Igreja. Ela é o ‘presente’”.

20 de jan. de 2011

Pedagogia destrutiva

Várias crianças brincam em um parque infantil pensado especialmente para elas. Tudo parece perfeito: grama rasa e verde, sol matinal na medida certa, árvores, borboletas fazendo demonstração de vôos para alguns pássaros, como quem lhes convidava para um tour aéreo...
O escorregador "chamava" as crianças para brincarem, o quiosque apresentava sua sombra de sapé e a "casa do Tarzan" se esparramava pelo gramado, estendendo-se até encontrar um acolhedor tanque de areia...
Mas nada disso parecia ter mais importância do que os incríveis balanços em formato de bola de futebol!
Ah, como é legal balançar nele bem alto, virar a cabeça para trás e ver o muro de cabeça para baixo e voar...
- Olha, tia,eu to voando...
E, por um minuto, o vôo imaginário se torna real e catastrótico:
- Voando? Não, você não pode voar - diz a "tia". Você não tem asas...Só quem voa é passarinho. Você é menino. E se voa "de" avião...Você não está num avião!
Pobre infância oferecida...Pobre menino...
Pobre menino? Como que retomando o folego após um mergulho não planejado, o pequeno garoto responde à sua amada tia:
- Tia, eu sou o Batman, tô de capa, não tá vendo? O Batman "vua" quando tá de capa!
Assim, passando pela turbulência da falta de imaginação adulta, o vôo do pequeno segue tranquilo sobre o mundo do faz-de-conta...





14 de jan. de 2011

Sobre Raique e Vandique

Como devem ser os 2 únicos habitantes de uma lugar (?)meticulosamente criado por um ser tão genial?
Na descrição do pequeno Rafa, Raique era magro, não muito alto, e era sério. Falava pouco e observava sem pressa os gestos do amigo Vandique, que parecia aproveitar melhor a vida...
Vandique era gordo, mas brincava com o pequeno visitante sem se queixar de cansaço e sem se preocupar com o tempo. Ele era "grande " e sorria quase o tempo todo. Além disso, levava o pequeno Rafa para passear em sua pickup e o convidava para entregar leite junto com ele.
Vandique vivia cada momento. Raique assistia a vida do outro.
Quem sou eu nesta história? E você?

12 de jan. de 2011

Falando em Cariboda...

Perguntas como "O que é Cariboda?", "Onde é?", "Como?", não cabem neste texto que pretende divagar brevemente sobre o assunto, porque Cariboda não existe! Isso mesmo! Cariboda é invenção de criança, proibido para adultos que perderam a capacidade de imaginar...
Cariboda foi "imaginado" por um garotinho de 2 anos; é mais que uma palavra, que um lugar limitado no espaço-tempo; não se pega, não se vê, não se chega nele, a menos que seja convidado pelos seus 2 únicos e ilustres habitantes: Raique e Vandique.
Além deles, só mais uma pessoa poderia viver Cariboda,  subir em suas árvores, andar pelos seus campos floridos: o pequeno Rafael. Lá ele podia andar de bicicleta, empinar pipa na rua, tomar leite gostoso de verdade trazido pelo leiteiro Vandique em sua pickup grande...
Viver um pouquinho sem as regras dos adultos, os medos, a indiferença.
Ser ele mesmo. E ponto. Isso é Cariboda..."tendeu?"