Havia uma homem com necessidade de conhecer o novo, viver o diferente. Este homem sabia que, no reino em que vivia, só o Rei poderia lhe conceder o necessário para que sua necessidade fosse satisfeita. O Rei, no entanto, era ocupado demais satisfazendo suas necessidades egocêntricas e não atendia diretamente seus súditos; ele tinha vários subalternos que anotavam os pedidos que seriam realizados (ou não) em tempo oportuno (para o Rei, claro!).
Porém, este homem queria falar com o Rei. Ele queria um barco para viajar em direção à Ilha Desconhecia. Ele estava decidido a não passar seu pedido aos subalternos do Rei. Queria pedir diretamente à sua Alteza e não sairia do portão das petições do palácio enquanto o próprio Rei não fosse atendê-lo. E, contrariado, foi o Rei atender a porta.
O homem, então, fez seu pedido: um barco, com o qual chegaria à Ilha desconhecida. O Rei, relutante, pois afirmava não haver ilhas a serem descobertas, não queria conceder o pedido. Mas a voz solitária do homem foi “engrossada” pela da multidão que esperava sua vez de ser atendida e, por insistência, o Rei lhe concedeu um barco. Imediatamente, a mulher da limpeza do palácio, que atendera aquele homem na porta, correu até a porta das decisões (pouco usada no palácio) e foi atrás do homem, animada a mudar de vida e a seguir viagem com ele, rumo à Ilha Desconhecida.
Grandes desafios começavam ali. O barco dado pelo Rei era, na verdade, uma caravela antiga em más condições de conservação; nem o homem nem a mulher da limpeza entendiam sabiam navegar; faltava uma tripulação, pois duas pessoas sozinhas não conseguiriam governar a caravela. Além disso, as gaivotas atrapalhavam toda movimentação deles na caravela. Assim, começaram as indagações do homem com relação à realização de seu sonho de encontrar a Ilha desconhecida. Como? Será possível? E, ao lado daquela mulher, que ele descobre bela e companheira, dá o nome de “Ilha Desconhecida” à caravela, que sai ao mar à procura de si mesma.
A história diária da educação não é diferente a da Ilha Desconhecida. Temos necessidades básicas para realizar um bom trabalho pedagógico, mas o Rei, representado pelos diretores, orientadores, coordenadores, supervisores e secretários, não nos atendem. Há toda uma burocracia que atrasa e até impede que simples pedidos sejam atendidos. Quando somos, o que nos é oferecido não atende às expectativas iniciais e todo trabalho com as crianças, precisa ser adaptado, replanejado em caráter de urgência.
Como no conto, a porta das decisões é pouco usada na escola. Na pública, talvez por falta de autonomia das unidades (escola pública? Não seria estatal?); na privada, provavelmente por autoritarismo da mantenedora. Seja qual for o motivo, as escolas são “engessadas” pelas normas de órgãos que as regem.
Em nível micro, ou seja, nas unidades de educação, há todo um “engessamento” do próprio corpo docente, que muitas vezes, vêem o novo como algo impossível de acontecer e, como os marinheiros que recusaram o convite para serem tripulantes da Caravela, não querem sair do seu lugar de “conforto”.
Há também, toda uma murmuração com as condições instaladas, que impedem que possibilidades sejam consideradas e que sejam reconhecidas as poucas mudanças que já estão acontecendo. A porta das decisões precisa ser utilizada nas unidades escolares; é preciso que nos arrisquemos, nos lancemos ao “novo” para conhecermos de fato, a nós mesmos a nossa prática.
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