29 de abr. de 2011

O que importa, importa?

Nem sempre conseguimos enxergar além dos muros existentes entre nós e os outros. 
Às vezes os muros são tão altos e extensos que mal conseguimos imaginar seus limites...E o  que é pior, é que quase sempre estes muros só existem em nossa imaginação individualista e pouco fecunda de idéias originais.
Talvez seja realmente loucura imaginar tal coisa. Talvez...
Por que pode ser também que, no mundo atual tudo esteja tão relativizado que provavelmente loucura não exista ou seja apenas uma forma original de ver as coisas. De novo, talvez!
Mas o que importa se existem muros reais ou simplesmente imaginados? 
A distância entre as pessoas cresce a uma velocidade enorme e pouco importa se existem dores ou lágrimas ou medos ou angústias, desde que eles não sejam meus...Não é isso?
Para que preocupar-se com lamentos alheios quando posso viver numa redoma de vidro temperado? Ainda, por precaução, posso mandar blindar a redoma! Claro, é urgente a necessidade de proteção "contra" o outro e qualquer coisa que venha do outro...Afinal, se não é meu ou não está comigo, não importa!
Importante é viver um faz-de-conta: eu faço de conta que nada mais importa e você faz de conta que o texto nada tem a ver com você...

26 de mar. de 2011

E assim caminha a humanidade...



Participei de um grupo de formação de professores de educação infantil nesta semana e o que vi e ouvi causou tristeza.
Eu e uma amiga fomos convidadas para socializarmos as informações de um curso do qual participamos sobre jogos cooperativos e  dinâmicas de grupo e aplicarmos ambos.
O resultado não foi o esperado por nós...
Uma pequena parte do grupo apenas estava ali, de corpo e alma; a maior parte estava apenas de corpo presente, velando seu próprio umbigo.
Estava ali um grupo de educadoras comprometidas em não se comprometer demais com o outro; apenas o suficiente para
"salvaguardar" parte de sua consciência que "teima" em se preocupar com o desenvolvimento da vida alheia.
Estava ali um grupo de educadoras que anseia por um salto na qualidade de trabalho, salário, benefícios próprios, claro.
Pensamos nas lutas que aquelas educadoras travam todo dia com as péssimas condições de trabalho que a educação pública propicia e tentamos justificar seu desinteresse por nossa proposta. Buscamos entender a realidade sofrida de uma classe pouco reconhecida pela sociedade, como é a dos professores; o desrespeito ao qual estão sujeitos diariamente, seus sonhos frustrados, como justificativa para tal comportamento.
Mas constatamos apenas que aquelas educadoras, talvez inconscientemente, estão reproduzindo um comportamento que desaprovam em seus alunos: mostram desinteresse, desrespeito com a educação, com seus pares e consigo mesmas.
Elas desaprovam o velho modelo de escola, mas rejeitam o novo. Argumentam fervorosamente contra as novas propostas "vindas de cima", mas, se apresentam alternativas à elas, essas são individualistas; fundamentadas por legalismos e crenças subjetivas.
E como é grande a capacidade de dispersar do grupo...fugir ao assunto, sair pela tangente... Falar o que não se deve e escrever o que é bonito!
É isso! Afinal não é a escola um espaço privilegiado para o faz-de-conta? 

9 de mar. de 2011

Voltando ao Cariboda

O Rafa esteve várias vezes no Cariboda. Ele viveu lá com seus 2 anos, lembram-se?
Eu me lembro bem desta época e, se vocês leram algum texto anterior do Cariboda se lembrarão também.
Mas sabem? O Rafa não se lembra!
Quer dizer, ele se lembra do lugar. do nome... Mas os amigos Vandique e Raique ficaram perdidos em algum lugar no passado, junto com as aventuras vividas, as histórias construídas...
Há apenas coisa da qual ele se lembra bem: Era bom demais! 
Acredito que a sensação seja a mesma de quando sentimos o cheiro do perfume de um grande amigo mesmo estando há quilômetros de distância dele... Como quando sentimos o gosto da comida da nossa mãezinha ao comermos um marmitex longe da casa dela...
Às vezes somos levados pelo tempo para longe de quem nos oferece abrigo desinteressado e consegue ser nosso cúmplice, ouvindo nossas conversas desmedidas...
Às vezes é só disto que precisamos e é tudo do que não dispomos.

O Rafa cresceu, afinal! Ele tem meios de tranporte reais, bebe pouco leite real e descobriu que há coco demais nas ruas das cidades reais... E nas casas, nas instituições públicas...
E eu? Eu descobri que somos todos carentes de Vandiques...

Até a próxima!

Ele, crescido!





 

23 de fev. de 2011

O conto da Ilha Desconhecida e a Educação - Um breve comentário


Havia uma homem com necessidade de conhecer o novo, viver o diferente. Este homem sabia que, no reino em que vivia, só o Rei poderia lhe conceder o necessário para que sua necessidade fosse satisfeita. O Rei, no entanto, era ocupado demais satisfazendo suas necessidades egocêntricas e não atendia diretamente seus súditos; ele tinha vários subalternos que anotavam os pedidos que seriam realizados (ou não) em tempo oportuno (para o Rei, claro!).
            Porém, este homem queria falar com o Rei. Ele queria um barco para viajar em direção à Ilha Desconhecia. Ele estava decidido a não passar seu pedido aos subalternos do Rei. Queria pedir diretamente à sua Alteza e não sairia do portão das petições do palácio enquanto o próprio Rei não fosse atendê-lo. E, contrariado, foi o Rei atender a porta.
            O homem, então, fez seu pedido: um barco, com o qual chegaria à Ilha desconhecida. O Rei, relutante, pois afirmava não haver ilhas a serem descobertas, não queria conceder o pedido. Mas a voz solitária do homem foi “engrossada” pela da multidão que esperava sua vez de ser atendida e, por insistência, o Rei lhe concedeu um barco. Imediatamente, a mulher da limpeza do palácio, que atendera aquele homem na porta, correu até a porta das decisões (pouco usada no palácio) e foi atrás do homem, animada a mudar de vida e a seguir viagem com ele, rumo à Ilha Desconhecida.
            Grandes desafios começavam ali. O barco dado pelo Rei era, na verdade, uma caravela antiga em más condições de conservação; nem o homem nem a mulher da limpeza entendiam sabiam navegar; faltava uma tripulação, pois duas pessoas sozinhas não conseguiriam governar a caravela. Além disso, as gaivotas atrapalhavam toda movimentação deles na caravela. Assim, começaram as indagações do homem com relação à realização de seu sonho de encontrar a Ilha desconhecida. Como? Será possível? E, ao lado daquela mulher, que ele descobre bela e companheira, dá o nome de “Ilha Desconhecida” à caravela, que sai ao mar à procura de si mesma.
            A história diária da educação não é diferente a da Ilha Desconhecida. Temos necessidades básicas para realizar um bom trabalho pedagógico, mas o Rei, representado pelos diretores, orientadores, coordenadores, supervisores e secretários, não nos atendem. Há toda uma burocracia que atrasa e até impede que simples pedidos sejam atendidos. Quando somos, o que nos é oferecido não atende às expectativas iniciais e todo trabalho com as crianças, precisa ser adaptado, replanejado em caráter de urgência.
            Como no conto, a porta das decisões é pouco usada na escola. Na pública, talvez por falta de autonomia das unidades (escola pública? Não seria estatal?); na privada, provavelmente por autoritarismo da mantenedora. Seja qual for o motivo, as escolas são “engessadas” pelas normas de órgãos que as regem.
            Em nível micro, ou seja, nas unidades de educação, há todo um “engessamento” do próprio corpo docente, que muitas vezes, vêem o novo como algo impossível de acontecer e, como os marinheiros que recusaram o convite para serem tripulantes da Caravela, não querem sair do seu lugar de “conforto”.
            Há também, toda uma murmuração com as condições instaladas, que impedem que possibilidades sejam consideradas e que sejam reconhecidas as poucas mudanças que já estão acontecendo. A porta das decisões precisa ser utilizada nas unidades escolares; é preciso que nos arrisquemos, nos lancemos ao “novo” para conhecermos de fato, a nós mesmos a nossa prática.