Enquanto alguns se distraem com as olimpíadas e outros se ocupam com as eleições municipais que se aproximam, o nosso Senado aprovou um projeto, no mínimo duvidoso: ele destina uma cota de 50% das vagas nas Universidades Federais para alunos oriundos da escola pública, sendo que dentre estes 50%, estão previstas cotas raciais e para classes sociais de baixa renda.
Um avanço? NÃO! Um retrocesso!
O número de "calouros" oriundos da escola pública tem aumentado nos últimos anos nas universidades públicas. O número ainda é pequeno se comparado aos calouros que frequentaram colégios particulares, mas o crescimento é real.
A reserva de cotas NÃO equaliza classes sociais nem profissionais formados nas universidades; acreditar nisso é um erro grave.
O aluno traz consigo uma bagagem grande de conhecimentos, habilidades e competências que foram desenvolvidos na educação básica. A Universidade não tem condições de fazê-lo. Colocar alunos com diferenças tão evidentes de educação formal básica é afirmar àqueles beneficiados com a cota, que são incompetentes, que têm cognição inferior comparada aos demais. Isso é discriminação!
Por favor, NÃO acreditem no apelo emocional implícito neste projeto. O que o senado faz é oferecer esmolas a sociedade. Não somos escória para viver de esmolas! Boa parte da sociedade ainda vive à margem dela por falta de investimento do governo nos serviços básicos, que deveriam ter qualidade: saúde e educação básica. Se você foi aluno de escola básica pública e não conseguiu passar em um vestibular de Universidade Federal, acredite, a responsabilidade não é só sua. A educação que te formou até então é sucateada, carente de investimentos.
É urgente que se invista em educação básica pública; é necessário que se valorize os professores de educação básica, garantindo-lhes formação contínua, inclusive; que se invista em materiais de qualidade, que sejam construídas mais unidades de atendimento, que se consulte os grandes educadores do país para que medidas de melhoria da educação básica sejam discutidas e concretizadas.
A educação básica pública de qualidade é que vai, de fato, garantir um maior número de alunos oriundos dela, nas cadeiras das Universidades Federais. O resto é balela.
Mas tem um detalhe: é mais barato aprovar este projeto. Mais rápido...
Quero terminar com uma frase de Aloísio Araújo, matemático, economista da Fundação Getúlio Vargas e coordenador do Grupo de Estudos de Aprendizagem Infantil da Academia Brasileira de Ciências: "Investimento precoce em educação, dá retorno elevado".
E acrescentar: "Avanços da neurociência permitem concluir que grande parte do desenvolvimento cerebral,bem como a capacidade posterior de aprendizado dá-se no pré-natal aos primeiros anos de vida. Corroborando este entendimento, estudos feitos por economistas, notadamente, os do professor James Heckman, prêmio Nobel de Economia, e da Universidade de Chicago, comprovam que intervenções educacionais feitas durante a primeira infância com crianças de baixa renda possuem taxa de retorno muito superiores a investimentos feitos em idades posteriores". (Aprendizagem infantil - uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva. Aloísio Araújo, coordenador do grupo de estudos, RJ, 2011)
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